sábado, 3 de outubro de 2009

RODA VIVA

Conversando com amigos sobre os rumos da música e dos artistas nestes tempos de “VMB” e de MTV, citei a peça “Roda Viva”. As reações de espanto e desconhecimento me deram a idéia de postar este texto com um resumo do tema da peça e do contexto em que ela foi apresentada.

No ano de 1967, durante a ditadura militar, Chico Buarque, cativou o grande público e ganhou espaço no mercado da indústria cultural. O compositor logo conheceu o assédio e as sensações de ser um “Pop Star”.

Em desabafo ele escreve o musical “Roda Viva”, que enfoca a trajetória de um ídolo da música popular, desde a sua ascensão até seu aniquilamento pelas mesmas engrenagens que o tinham fabricado.

No dia 15 de janeiro de 1968, “Roda Viva” estreou no Teatro Princesa Isabel, no RJ, com direção de Zé Celso.

O texto da peça, com a finalidade de incomodar o público, trazia “pérolas” como: "Você já matou seu comunista hoje?", dirigido pelos atores a qualquer um escolhido aleatoriamente entre os espectadores.
Ficou famosa a cena em que os integrantes do coro, no papel de fãs em transe, simulavam a "devoração" do corpo do cantor despedaçando um fígado de boi cru, fazendo com que o sangue respingasse sobre a platéia. Entre as outras muitas provocações havia uma cena em que Nossa Senhora rebolava de biquíni em frente a uma câmera de TV.

A peça tem como personagem principal Benedito da Silva, um cantor desconhecido que busca o sucesso, Juliana, seu par romântico, Mané, seu amigo que acaba abandonado quando o sucesso chega ao cantor, o Anjo da Guarda, seu empresário que segue as tendências do mercado ditadas pelo Ibope, e o Capeta, representando os veículos de comunicação e a imprensa, os responsáveis por sua fama e queda, além do Coro, que representa diferentes grupos de pessoas.

O primeiro ato gira em torno da ascensão de Benedito, que com ajuda do Anjo deixa de ser um artista desconhecido, mesmo sem saber cantar, e torna-se um ídolo nacional com o nome de Ben Silver. Nesse processo, Ben passa por uma transformação assessorada pelo Anjo, que o faz perder a personalidade e tornar-se produto da mídia, como qualquer outro objeto a ser vendido.
O segundo ato mostra o controle a que Ben foi submetido e a falta de liberdade que isto lhe custou. O Capeta começa a importunar o sucesso de Ben que mais uma vez, se mantém na mídia através das sugestões do Anjo, que resolve transformá-lo de um ídolo popular alienado para um representante da cultura brasileira e assim, Ben adota o nome de Benedito Lampião e viaja para os Estados Unidos.
Durante sua estadia no exterior, o Capeta transforma sua imagem em algo completamente negativo e para solucionar esse problema o Anjo só vê uma solução, a morte de Benedito para dar lugar a um novo ídolo. Em seu lugar surge sua viúva, JUJU, mais uma boa jogada de alto Ibope.

Depois de ter estreado em janeiro no Rio, o espetáculo fazia temporada em São Paulo quando foi vítima de um ataque do CCC - Comando de Caça aos Comunistas. Na noite de 18 de julho de 1968, um grupo de vinte homens encapuzados, armados de cassetetes e soco inglês sob as luvas, invadiu a sala O Galpão e esperou o público se retirar para destruir os cenários e espancar os atores nos camarins. Não ficou por aí, em Porto Alegre, no dia seguinte à estréia, em 3 de outubro, agentes da repressão invadiram o hotel onde o grupo estava hospedado e seqüestraram dois atores, abandonando-os no mato, na periferia da cidade.
A trajetória da peça terminaria assim, com todos os atores retirados do hotel e embarcados de volta para São Paulo. Tais fatos, que já prenunciavam o terror do AI-5, contribuíram para deixar “Roda Viva“ inscrita na história do país.

Um comentário:

Lu Poggi disse...

Eu percebi que fiquei uma velha musical, pois não conhecia o som da maioria dos premiados da MTV e dei graças à Deus!
Bjs.